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III Simpósio sobre Religião e Migração

  • Foto do escritor: Missão Paz
    Missão Paz
  • 13 de jun. de 2017
  • 4 min de leitura

Síntese do III SIMPÓSIO SOBRE RELIGIÃO E MIGRAÇÃO

Religião e Migração: fronteiras, conflitos e o drama dos refugiados

5 a 7 de junho/2017

“Vivemos em um mundo cheio de perigos; um mundo que vive uma crie humanitária sem precedentes. Um sinal disso é que 65 milhões de pessoas são deslocadas. Delas, mais de 21 milhões são refugiadas. Mas, qual a diferença entre a crie humanitária do passado e a de agora? Guerras sempre aconteceram. Contudo, elas tinham um fim e as pessoas podiam voltar para casa. Hoje, as guerras são cíclicas, não têm fim e as pessoa s não podem mais voltar para as suas casas”. Esse foi o início da Conferência de abertura do III Simpósio Religião e Migração, proferida por Isabel Marquez, representante do ACNUR no Brasil.

O Simpósio contou com outras três conferências, duas Mesas Redondas, sendo uma delas composta por refugiados do Oriente Médio, e seis mesas de comunicações, nas quais foram apresentados 27 trabalhos por mestrandos e doutorandos. E ainda teve a participação da Companhia de Teatro “As Graças”.

A profa. Rosana Baeninger (Unicamp) destacou, em sua conferência, que o imigrante que chega ao Brasil não é mais aquele imigrante idealizado, europeu, branco. Os imigrantes contemporâneos pertencem a diversos grupos étnicos e professam credos religiosos diversos do cristianismo. Além disso, esses imigrantes não elegem o Brasil, necessariamente, como país de destino. No contexto da globalização, da mobilidade do trabalho, das redes de migrantes, de políticas migratórias mais, ou menos restritivas, o Brasil tem figurado, simultaneamente, como país de trânsito, imigração e emigração. Isto reflete na não resolvida migração interna que alcança os imigrantes internacionais. E também fortalece o debate sobre a migração transfronteiriça, sendo que esta, além de envolver os latino-americanos, também envolvem os africanos, caribenhos, asiáticos, etc. Diante disso, Rosana Baeninger propõe uma governança das migrações, priorizando a participação, representação de diversos setores e grupos sociais em vista dos diversos arranjos, culturas, religiões, anseios dos migrantes, dos estados e das sociedades.

Os professores Peter Demant (USP) e Francirosy Campos (USP) fizeram abordagens sobre religião e conflitos no Oriente Médio; migrações, refúgio, desafios e convivência em São Paulo. Destacaram que o diálogo inter-religioso é a chave para a comunhão entre diferentes religiões. Observaram que nem todo conflito que é classificado como “religioso”, efetivamente o é. Muitas vezes, usa-se a religião para justificar conflitos econômicos, políticos, sociais. Peter Demant ainda propôs a questão sobre por que e como o Estado Islâmico tem um forte poder de atração. Para ele, uma das respostas diz respeito ao fato de que vivemos em uma sociedade onde tudo é previsível, onde não há mais metas a não ser manter o sistema dominante. Nesse contexto, o exército invisível do Estado Islâmico propõe uma meta transcendental, a partir da religião, para erodir o sistema de Estados territoriais e instalar uma nova ordem mundial. Francirosy Campos destacou que “a guerra não é um atributo religioso. O atributo fundamental da religião é a paz”, completou.

Daniel Bertolucci (advogado da Caritas – ASP) fez um apanhado histórico sobre a concepção do “direito ao refúgio” e seu caráter eurocêntrico inicial. O conferencista destacou que o debate sobre o direito ao refúgio foi ganhando corpo social e político até se expandir como direito para todos os povos ou pessoas que sofram ou estejam ameaçadas por “graves e generalizadas violações de direitos”. É assim que podemos constatar promulgações como a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (1979), a Declaração de Cartagena (1984), etc.

Os respectivos relatos de duas mulheres refugiadas, uma da Síria, outra do Iêmen, trouxeram presentes os diversos rostos dos migrantes, refugiados e deslocados que fogem de conflitos levando na bagagem a esperança por uma vida melhor e de paz.

O Padre Fabio Baggio, cs (Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano) abordou o tema “Religião e conflito na África”. Destacou que o continente africano é marcado por conflitos. Em 2010, a metade dos países africanos tinha, cada um, ao menos um conflito. O mapa dos conflitos dos últimos 15 anos, na África, coincide com o mapa das regiões de origens dos refugiados africanos. E, paradoxalmente, dos 10 países que mais receberam refugiados no mundo em 2015, cinco deles (Etiópia, Quênia, Uganda, República Democrática do Congo-RDC e Chade) se localizam na África. Alguns deles, como a RDC, são, ao mesmo tempo, países de destino e de origem de refugiados. Fabio Baggio também apontou que o elemento religioso parece não determinar a relação entre os Estados. Muçulmanos, cristãos e outras expressões religiosas, convivem bem institucionalmente. Os conflitos são dão mais na vivência do cotidiano do que nos dogmas religiosos. O conferencista ainda propôs uma pergunta sobre quais são os interesses que empresas multinacionais e nações poderosas têm em perpetuar os conflitos no continente africano. Ele enfatizou que as soluções para os conflitos precisam considerar ações humanitárias e políticas articuladas entre governos, sociedades, universidades e Igrejas. Ao lado disso, acredita-se, com base em experiências já em curso, que está sendo gestada uma nova geração na África que prima pela paz. Para isso, há que se documentar e registrar as boas experiências, para que elas sejam multiplicadas. Seria uma inversão de narrativas fundamentada em práticas já existentes de superação de conflitos, de pobrezas; de pensar, viver e fazer a África. As narrativas que sobressaem hoje são a do “ataque às embaixadas”, a “carro bomba”, etc. É preciso eleger narrativas sobre a experiência na acolhida aos refugiados; sobre os saberes locais, a produção e a segurança alimentar. Muito se fala sobre a cooperação Sul Sul neste momento. Há muito que aprender com a África sobre ao cooperação interna entre seus Estados e seus povos.

O III Simpósio Sobre Migração e Religião foi realizado através de parceria entre a PUC-SP, SIMI/ROMA e a Missão Paz. A média de público participante foi de cerca de 110 pessoas por dia. Muitas outras pessoas também acompanharam, ao vivo, pela Web Rádio Migrantes em Espanhol e pelo Facebook da Missão Paz. As Conferências e palestras estão disponíveis no Facebook da Missão Paz – São Paulo. Visite o nosso Facebook e confira as apresentações na íntegra.

Fotos: Miguel Ahumada


 
 
 

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